Comunicação Inclusiva no Audiovisual

Muito além da vitrine

Ferramentas para a permanência de pessoas dissidentes na indústria

A presença de pessoas dissidentes no audiovisual brasileiro, pessoas trans, não binárias,
negras, indígenas, pessoas com deficiência, periféricas e de classe baixa, ainda é marcada por
um duplo movimento: a inclusão simbólica e a exclusão estrutural. Quando aparecem, esses
corpos são muitas vezes tratados como vitrine, como tokens que cumprem um papel de
diversidade pontual, mas sem mecanismos reais de permanência. O resultado é uma indústria
que se diz inclusiva na superfície, mas que continua reproduzindo práticas de exclusão nos
bastidores.

Os números comprovam essa realidade. Pesquisa da UNI Global Union e da Federação
Internacional de Atores revelou que 95% das pessoas trans e não-binárias já sofreram violência
ou assédio no mercado audiovisual da América Latina. No Brasil, ainda são raríssimos os
casos de pessoas trans e negras em cargos de liderança, seja na direção, na produção, na
fotografia ou na distribuição de filmes. Quando entram em um set, muitas vezes essas pessoas
ficam restritas às funções de base, sem segurança, sem autonomia e, em diversos casos, sem
remuneração justa. Esse cenário não decorre de falta de talento, mas de uma estrutura
histórica de racismo, transfobia, capacitismo e elitismo que molda a indústria.

É por isso que falar de inclusão não basta. O desafio central é a permanência. Garantir que
pessoas dissidentes não apenas entrem no mercado, mas tenham condições de se manter,
crescer e liderar. Isso exige políticas e mecanismos concretos: contratação contínua e não
apenas pontual; planos de carreira que evitem a estagnação; programas de capacitação
remunerada e de mentoria; protocolos sérios contra assédio e discriminação; e abertura de
espaços de liderança para quem historicamente foi silenciado.

A diversidade que precisamos não é vitrine. É transformação estrutural. Trata-se de reconhecer
que o audiovisual brasileiro só se fortalece quando incorpora múltiplas narrativas e vivências
em todas as suas etapa, da criação ao roteiro, da produção à distribuição, até chegar ao
público. Porque se a indústria perde em diversidade, ela perde também em inovação, potência
criativa, capacidade de emocionar e até em geração de trabalho e economia.

O audiovisual brasileiro está diante de uma encruzilhada: pode seguir se repetindo e se
desgastando, ou pode se reinventar pela força criadora das pessoas dissidentes que sempre
inventaram caminhos onde não havia estrada. Permanência é a palavra-chave desse processo.
Não como concessão, mas como direito. Não como favor, mas como condição de dignidade e
de futuro para o Cinema Brasileiro.

Alice Muniz, APTA

Alice Muniz

Alice Muniz Cardoso Arruda é atriz formada em Atuação Cênica pela UNIRIO, fotógrafa formada pelo SENAC-RJ, diretora de fotografia, assistente de direção e comunicadora popular. 

Está como Conselheira Municipal de Políticas Culturais do Rio na cadeira do Audiovisual e Presidenta da APTA – Associação de Profissionais Trans do Audiovisual. 

Atua em cinema, teatro e comunicação, em movimento e construindo pontes entre criação artística, produção cultural e incidência política.


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