Reescrevendo o Real

Uma das questões centrais da produção documental contemporânea é o chamado hibridismo de gênero, entre a ficção e o documentário.

O fato é que esta é uma questão que remonta às origens do Cinema, quando os irmãos Lumiére fizeram seus pioneiros registros com o ditos cinematógrafos. Muita gente considera esses registros como pequenas peças de natureza documental. E são. Mas, já aí atravessadas por estratégias ficcionais de encenação e inserção de personagens, como na cena em que passageiros de um barco descem e atravessam um pequeno trapiche. Entre os últimos a passar, está um homem com um tripé nos ombros, provavelmente um dos irmãos Lumiére, que olha para o cinematógrafo e dá um irônico “adeusinho”.

Mais de duas décadas depois, 1922, naquele que é considerado o primeiro longa-metragem documental – Nanook, o esquimó seu diretor Robert Flaherty não hesitou em usar estratégias ficcionais como a Encenação, Estrutura com Abertura/Contextualização/Apresentação dos Personagens/Desenvolvimento/Crise/Clímax/Desfecho.
Enfim, Nanook tem uma dramaturgia e a intenção do espetáculo cinematográfico, como qualquer filme de ficção.

Flaherty alterou a dita realidade, ou melhor, produziu muitas situações nesta obra. Por exemplo, quando solicitou que Nanook fosse à caça da morsa (espécie de leão-marinho) com um arpão e não com uma arma de fogo como os esquimós já o faziam.

Esse hibridismo entre a ficção e o documentário no Cinema contemporâneo se intensificou. As fronteiras entre a factualidade e a ficcionalidade se diluíram cada vez mais. É o que comprovam algumas das últimas obras de Eduardo Coutinho, como em Jogo de Cena, bem como filmes de outros expressivos documentaristas como Andrea Tonacci, Jorge Bodansky, Jorge Furtado, Susanna Lira, Cao Guimarães, Joel Pizinni, entre outros.

É como disse Jean Luc GodardSe olharmos em profundidade uma bela obra de ficção, no fundo veremos um documentário. E, se olharmos com atenção um belo documentário, no fundo veremos uma ficção.

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