Conversações sobre Cinema Brasileiro

por Hernani Heffner, ABC

curso presencial

 “Só o inominável vale a pena.”

António de Deus-Rosto

“The one duty we owe to history is to rewrite it.”

Oscar Wilde

O Brasil não muda. Será que o Cinema feito no Brasil pode mudar? Investigação retórica em torno de seis pontos de partida do passado para um momento pós-niilista mais para o fim do século XXI, o percurso sentimental não tem nenhuma pretensão histórica, filosófica ou nostálgica. Não se trata de alargar horizontes, entender premissas, questionar contradições, formular soluções. Como meros jogos de imaginação em torno de sobrevivências possíveis, muitas delas abissológicas, inconscientes, ocultas, dispersas ou mesmo inventadas, os encontros e conversas possíveis ao redor do fogo partem de seis “temas-filmes”, que são mero pretexto para um futuro exercício de criação poética.

As conversas são gravadas e postas à disposição por 48h, para quem perdê-las. 

Programa

Cada filme será objeto de dois encontros presenciais, um para assistir a obra nas Casas Casadas, outro para conversar sobre ela após 15 dias, intervalo necessário à leitura de uma ou mais obras sugeridas na bibliografia.

Objetivo

Explorar e problematizar seis categorias – tempo, espaço, ficção, anarquia, melancolia e memória – com maior ou menor flutuação frente à realidade em seis filmes brasileiros de modo a reimaginar uma prática cinematográfica futura, de acordo com os preceitos da física quântica.

 CONVERSAÇÕES SOBRE CINEMA BRASILEIROHernani Heffner, ABC 
1LIMITE  
    
 Limite (1931), de Mário Peixoto é um filme que fascinou sobretudo uma geração de físicos teóricos como Plínio Sussekind Rocha, Saulo Pereira de Mello e Alexandre Sérgio da Rocha. Considerado, de forma analítica, uma obra narrativa e linear, é tomado normalmente como um fluxo desordenado, de difícil fruição e compreensão e até mesmo caótico em suas múltiplas simultaneidades. Mais recentemente aproximado a uma chave “decadente”, Limite parece ter sido o primeiro filme a colocar de forma provocativa a questão do tempo, mais especificamente as concepções da chamada B-teoria do tempo.  
    
2LE TÉLÉPHONE  
    
 Em 1959, Eduardo Coutinho retomou uma pequena ópera cômica, criada por Gian Carlo Menotti na década anterior, como base de seu primeiro exercício fílmico, aparentemente se opondo à trágica ruptura de La Voix Humaine – peça de Jean Cocteau, filme de Roberto Rossellini e ópera de Francis Poulenc. Em comum a presença do telefone, primeira tecnologia de impacto quanto à dissociação de tempo em relação ao espaço, vetores reaproximados pela nascente “gramática” do Cinema, que inventa uma nova e falsa temporalidade a partir da reimaginação de vários presentes simultâneos como sucessivos. Teria o advento do Iphone em 2006 e do mundo online outdated o Cinema, ou podemos reimaginar novos entrelaçamentos que reposicionem ou suprimam noções como espaço e tempo, quadro e corte?  
    
3TAMBÉM SOMOS IRMÃOS  
    
 Todo projeto educativo e libertador é, segundo Nietzsche, “queda amorosa de chuva à noite”.  Mas o que pode vencer o destino implicado na não-superação de barreiras sociais, econômicas, raciais e políticas? Na visão do roteirista Alinor Azevedo e do diretor José Carlos Burle, nada. Sob o impacto do Hamlet do Teatro Experimental do Negro, da consolidação da favela carioca e do ápice do Cinema como fenômeno global, dá-se partida, em 1949, a um emaranhado coletivo que, na aparência do mundo, não supera a ausência de distância no bloco universal. Também somos irmãos evolve como o experimento do gato de Schrödinger, edificando o colapso que está apenas na mente do observador.  
    
4AS AVENTURAS AMOROSAS DE UM PADEIRO  
    
 Entre Lina Wertmuller e Carlão Reichenbach, Waldyr Onofre. No improvável território da pornochanchada o caboclo Shakespeare continua a manter livre o trânsito entre as várias esferas sublunares, agora acrescidas do colapso da partícula fotoelétrica. Deslocado para uma existência paralela, As Aventuras Amorosas de um Padeiro (1975) é uma das cordas mais pulsantes da dimensão temporal. Contemporâneo do punk rock, antecipador às avessas do steampunk, cultor do cafona-brega, o “tecno-sacro” filme de Onofre empreende uma longa viagem da Igreja e da cidade dos planos iniciais às pedras, matas, mares, caminhos dos planos antes do fim em freeze frame. Irôko se revela como o orixá da demora, do momento certo, do sono sobre a areia ou, ainda, segundo Débora Garcia, como “O tempo maroto pra olhar pro lado e ver que certas coisas já perderam a validade, oxidaram. Enferrujaram num canto qualquer da nossa história”.  
    
5ARÁBIA  
    
 Segundo a quântica, qualquer matéria, qualquer informação, só é deslocável, só mergulha no “tempo”, quando o qubit muda de 0 para 1. Uma tal operação, ainda forçosamente experimental e destinada à computação quântica, só é possível porque existe memória, uma inscrição física qualquer que se superpõe à sua ausência presente, seu “momento anterior”. A memória é a única possibilidade do tempo convencional existir. No clássico Arábia (2017), de Affonso Uchôa e João Dumans, Cristiano, já ausente, se faz “presente” de muitas formas. Reaparece quando isso já não é mais possível do ponto de vista material, preenchendo o éter chamado Brasil com a melancolia dos seus desejos e dos seus sonhos frustrados.  
    
6O CANTO DAS AMAPOLAS  
    
 Se Cristiano ainda está “presente” de forma imanente, isto não é mais possível para Dina Moscovici, mãe da diretora Paula Gaitán, que apresenta-se de forma transcendente, em termos ocidentais tradicionais. O canto das Amapolas (2023) são restos do passado que se apresentam como memórias incompletas, por vezes quase vazias, prestes a se desfazer. A biografia, a história, o Brasil, estariam condenados a um reboot ou haveria a chance casual, e mesmo paradoxal, de outras impossibilidades possíveis?  
    
  horas do curso24

FORMATO

Presencial com 12 sessões de 2 horas  – 24h – 2 sessões por mês

HORÁRIO

Quartas de 19:00 às 21:00

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INVESTIMENTO

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CERTIFICAÇÃO

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NETWORKING

Hernani Heffner, ABC

Editor, ator e atual Gerente da Cinemateca do MAM

Graduado em Comunicação Social/Cinema pela UFF.

Começou a carreira profissional na Cinédia, em 1986, onde trabalhou com levantamento de fontes e dados e coordenou a restauração de filmes como “Ébrio”, “Alô! Alô! Carnaval!” e “Bonequinha de Seda”.
Ingressou na Cinemateca do MAM-RJ em 1996, passando pela Curadoria de Documentação e Pesquisa, assumindo, em 1999, o cargo de Conservador-Chefe e, em 2020, o de Gerente da Instituição. No ano seguinte, passa também a lecionar em diversas universidades e cursos livres como a UFF, Fundação Getúlio Vargas, Fundação de Artes do Paraná, Usina João Donato, Vila das Artes e PUC – Rio. Atuou como pesquisador audiovisual em filmes como “Vala Comum” e “O Contestado – Restos mortais”.
É autor da pesquisa e do roteiro do vídeo “A lógica do Silêncio”, sobre a atuação da censura durante a ditadura civil-militar. Escreveu mais de 100 verbetes para a Enciclopédia do Cinema Brasileiro, assim como dezenas de artigos e textos para catálogos, revistas e livros. Foi Curador do Festival Cine Música, de 2007 a 2014, e da temática Preservação da Mostra de Cinema Ouro Preto – CineOP, de 2012 a 2016, assim como de inúmeras mostras para instituições como o CCBB, Caixa Cultural e SESC, e de exposições sobre Cinema no MAM-RJ.
Participou como ator de mais de 20 curtas e da série “Anjo loiro com sangue no cabelo”.
Acaba de finalizar o primeiro trabalho como editor, o curta “Arruma um Pessoal pra Gente Botar uma Macumba num Disco”.
É o idealizador da série /lost+found, sobre preservação audiovisual, em exibição no Canal Curta! e na plataforma Tamanduá.